"Scattered Cartographies (Moving away from home, Now it was just make believe)"
Estes dois trabalhos são vídeos diarísticos, ensaios que debatem os problemas da migração, da vida em diáspora, a utopia e a realidade construída, a deslocalização. Partindo da experiência pessoal da artista (a sua emigração de Portugal para a Suécia), ambos os vídeos refletem sobre a seguinte questão: o que constitui um "lar"? A abordagem de Lusitano-Santos em relação a esta problemática, e a tentativa de obtenção de uma resposta para a pergunta "Como se cria uma nova identidade?" é o ponto central nesta exposição. Esta é a premissa da discussão do conceito de identidade Europeia, que nos aproxima assim da questão: Pode a Europa desempenhar o papel de lar? Quais são as condições desse processo?
"Os filmes cruzam a minha história pessoal e a do meu filho com as dos outros portugueses emigrantes. Nestes filmes encetamos conversas que têm como objetivo representar as nossas aspirações e experiências. A investigação artística dos desafios da emigração, faz com que seja possível articular as diferenças que existem numa Europa que luta para construir a sua identidade".
. Maria Lusitano-Santos.
O trabalho desta artista é maioritariamente caraterizado pela utilização do vídeo. Lusitano-Santos desenvolve projetos baseados em investigação artística prévia que se apropria das metodologias utilizadas pela Sociologia, História, e do documentário. Atualmente interessa-lhe investigar as utopias históricas e a experiência da diáspora. Maria Lusitano-Santos participou na Manifesta 5 em San Sebastian (2006) e na edição de 2006 da PhotoEspana em Madrid. Nos últimos anos apresentou o seu trabalho em vários eventos artísticos nacionais e internacionais, nomeadamente, no LundsKonstHall na Suécia, no Moderna Museet em Estocolmo, Suécia, na 29ª Bienal de São Paulo (2010), na Universidade de Joshibi em Tóquio, na Universidade de Belas-Artes de Seoul na Coreia, etc. Em Portugal participou em exposições na Fundação Calouste Gulbenkian e na Fundação Serralves.
Maria Lusitano-Santos - Sítio Oficial
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/ A minha história europeia
A investigação artística dos desafios da emigração, faz com que seja possível articular as diferenças que existem numa Europa que luta para construir a sua identidade.
Nasci em 1971 na cidade de Lisboa, Portugal, mas a minha relação com uma Europa maior do que a minha pequena pátria foi bastante intensa desde muito cedo. Portugal sempre teve um grande fluxo de emigração, e no meu mundo ideal sempre me imaginei a viver no estrangeiro, num local solarengo, muito melhor do que a realidade. Por volta dos 12 anos de idade desenvolvi uma obsessão intensa em relação à Suécia, causada pela descrição desse país como sendo um estado social, preocupado com todos os seus cidadãos. Cheguei a escrever à embaixada da Suécia quando tinha 13 anos, pois queria aprender Sueco. A partir desse momento, a Suécia passou a ser a minha utopia, um local perfeito. Curiosamente, nesse mesmo ano, comecei a ver uma série televisiva de ficção científica, e comecei a pensar intensamente sobre a possibilidade de extraterrestres me virem convidar para ir viver com eles, algo que faria sem hesitação. O meu desejo de um mundo melhor foi-se expandindo para além do planeta terra. Quando tinha 17 anos comecei realmente a "andar por aí". Desde essa altura não tenho parado.
A minha primeira viagem foi aos Estados Unidos, onde a vida foi quase cinematográfica. Lembro-me de chegar a uma Nova Iorque húmida e quente, como se estivesse num filme. Fui para os EUA através de um programa de intercâmbio que teve lugar no último ano do liceu. O meu destino era a Califórnia, onde vivi com um família judaica de San Diego. Esse ano foi como viver dentro de um filme. Depois voltei a Portugal, mas logo em seguida parti novamente para fazer os meus estudos universitários na Itália e em Espanha. Em nenhum destes lugares me lembro de ter sentido uma estrangeira.
A noção de ser estrangeiro apenas aconteceu depois, em 2007 quando o meu filho nasceu e fui viver para a Suécia. O meu sonho de infância estava a tornar-se uma realidade. Recordo-me da chegada a Malmö durante um dia chuvoso de Setembro, tinha o coração cheio de esperança e um filho de 4 anos. Queria mudar a minha vida. E foi o que fiz. Na verdade a minha vida mudou de forma inesperada. Na Suécia tornei-me estrangeira, mas também uma artista Sueca.
Sinto-me Europeia, claro, mas senti-o mais do que nunca quando vivi nos Estado Unidos com 17 anos de idade. Agora tenho 40 anos, e vivo entre Malmö e Londres. Durante o verão fico em Lisboa. E sendo honesta, vejo-me profundamente como uma portuguesa, mesmo que o meu filho ande na escola sueca em Londres, e afirme que é um sueco que vive em Londres. No entanto, as minhas deambulações em busca de um lugar ao sol mudaram. Acredito que esse lugar de mudança está dentro de mim, e pode ser alcançado em qualquer lugar.
Agrada-me a ideia dos Estados Unidos da Europa, pois é algo que transmite um desejo, um plano positivo para uma construção solidária entre os países de um grande continente com uma história difícil e plena de conflitos. Mas mais do que os USE, gosto de pensar que faço parte da CSW: a confederação de estados mundiais da minha série televisiva de ficção científica preferida, que tanto gostava e via quando era uma criança. Esse sonho é ainda mais positivo, uma articulação de uma esperança, um plano para um futuro partilhado da humanidade.