IDEIAS BASE DO PROJETO
JOHANNA SUO
Iniciadora, criadora do conceito e Gestora de Projeto,
Goethe-Institut, Paris
Estou muito satisfeita pelo potencial que o Goethe-Institut de Paris, o consórcio parceiro, e o Programa Cultura da UE, deram a este projeto, como desejado, uma maior visibilidade. A ideia do projeto U.S.E. nasceu da fraca participação nas eleições de 2009 para o Parlamento Europeu, o que, penso eu, é sintomático da pouca confiança que muitos europeus têm na UE… ou foi?
Porque é que as pessoas não se preocupam com a cidadania europeia? Eu, pessoalmente, sempre senti uma forte ligação à Europa, enquanto entidade geográfica e sempre encontrei denominadores comuns entre muitas culturas na Europa.
U.S.E. pretende, não só, debater a cidadania europeia mas igualmente disseminar a discussão o mais abrangentemente possível. É feito através de debates transversais e igualmente através do laboratório e do sítio na internet onde gostaríamos de ligar diferentes visões.
Foi, por isto, importante pedir a Europeus com situações de vida contrastantes para participar nas nossas entrevistas. Nesta exposição, estas entrevistas são confrontadas com trabalhos de 14 artistas (vídeos, fotografias, instalações) e um laboratório multimédia; a documentação está misturada com as interpretações artísticas.
Eu quis apresentar ao visitante uma exposição que ofereça diversas dimensões visuais da Europa e Identidade Europeias através de diferentes disciplinas e perspetivas. O laboratório é o coração da exposição e exceto ser um trabalho artístico por si só, está feito para funcionar como uma plataforma de comunicação para vocês, visitantes. Vão lá e podem, por exemplo, responder num ecran tátil um questionário sobre a Europa e dar-nos feedback através do livro de visitantes virtual.
Estes elementos estão ligados ao sítio da internet do U.S.E. : www.go-use.eu
U.S.E. não está desenhado para ser a propaganda de uma Europa federal. O projeto foi criado de uma necessidade de apresentar um projeto cultural que acrescente novidade, diversidade, perspetivas artísticas ao debate sobre a Europa em que vivemos. Com a severa crise económica atual é importante, mais do que nunca, apresentar projetos artísticos e culturais que possam desempenhar importantes papéis para o desenvolvimento da nossa sociedade.
OS CURADORES
Três curadores da cena artística internacional foram escolhidos para trabalhar com um grupo de artistas cada. Aqui ficam os depoimentos da Anna, do Ryszard e da Sinziana sobre o U.S.E.
ANNA BITKINA
Curadora, São Petersburgo, Rússia
O ponto da identidade sempre foi importante na arte contemporânea. Atualmente a questão da identidade tornou-se particularmente crucial devido à globalização e aos intensos processos migratórios que mudaram o perfil de muitas nações, incluindo as Europeias. Baseado na teoria do habitus de Pierre Bourdieu, formas de identidade nacional são relativamente estáveis mas não devem ser consideradas naturais ou adquiridas. Unicamente encorajando interações com outros cidadãos e a noção do “outro” podem oferecer ajuda no desenvolvimento de formas de habitus e identidade. A exposição serve tanto como plataforma para uma discussão aberta sobre a Europa contemporânea, como uma ferramenta poderosa para fortalecer um sentimento de identidade Europeia entre as pessoas na União Europeia. De acordo com Bice Curiger, curador da 54ª Bienal de Veneza, os artistas são conhecidos como “turistas culturais e migrantes altamente percetivos” por conseguinte, as suas vozes são particularmente importantes.
Na sua série de fotografias "Estonian Race", a artista estónia Tanja Muravskaya chama-nos à atenção face ao crescimento dos movimentos nacionalistas na Europa atual. Na instalação vídeo "Risk Society", o coletivo alemão REINIGUNGSGESELLSCHAFT revela a mentalidade dos jovens europeus entrevistando estudantes de uma escola superior alemã. Os personagens principais do trabalho em vídeo "How Capital Moves", pelo duo artístico irlandês Kennedy Browne, estão desiludidos com o conceito de mercado livre na União Europeia e denunciam desigualdade económica. A instalação de arte pública de Kaarina Kaikkonen pode ser vista como uma imagem romântica de uma Europa unida onde os estados se apoiam mutuamente. Mas o seu trabalho pode igualmente recordar-nos alguns eventos históricos, tais como guerras, revoluções ou lutas económicas que frequentemente dividiram a Europa no passado.
RYSZARD W. KLUSZCZYNSKI
Curador, Łódź, Polónia
O desenvolvimento da União Europeia aborda o assunto da integração sócio-cultural em todas as sociedades europeias. Tradicionalmente costumávamos falar de identidade em contexto. Mas a noção de identidade atualmente, tanto individual
como coletiva, gera muitas dúvidas, relativamente aos processos de globalização, migrações, a fusão de culturas, da hibridização de tradições. A identidade europeia não é um ponto importante, mesmo entre os cidadãos europeus.
Quando se identificam a si próprios, habitualmente falam sobre nacionalidade, género, profissão, religião, mas não sobre ser Europeu.
Em tal situação, podemos tentar desenvolver um conceito socialmente atrativo de "Europeísmo", ou, seguindo a teoria de Giorgio Agamben, reconsiderar o conceito de “comunidade sem identidade”, em que os participantes não partilham a mesma identidade essencial, mas desempenham papéis de diferentes exemplos de tal comunidade.
A exposição cria condições para a deliberação de vários aspetos desta questão. Os trabalhos dos artistas convidados discutem as suas diferentes, importantes questões. Luchezar Boyadjiev examina a questão dos componentes históricos das identidades nacionais. Anna Konik chama a nossa atenção para as consequências da pobreza, da falta de alojamento, e marginalização. Gerda Lampalzer aborda o problema das relações de poder entre as nações europeias. Maria Lusitano Santos analisa a questão de pátria e pergunta o que faz um lugar parecer que se sinta em casa. A questão da casa e o seu papel no processo de formação de identidade está no coração dos trabalhos tanto de Konik como de Lusitano-Santos. Anu Pennanen prolonga o campo incluindo problemas de etnicidade e migração. Os artistas não nos dão respostas finais. Em vez disso, eles simplesmente fazem-nos ter consciência da complexidade e do alcance destas questões.
SINZIANA RAVINI
Curadora, Paris, França
O que é a Europa hoje? É uma região geográfica? Um conceito? Um estado de espírito? A Europa eliminou muitas fronteiras, mas criou outras. Há tensões por todo o lado. O fosso entre "ser" e "tornar-se" Europeu, "ter direitos" e "lutar pelos direitos" está a tornar-se cada vez maior. A França está a lutar contra o desemprego, a Holanda com o novo "Colapso Cultural", Londres com os violentos motins, a Noruega com os extremistas de direita, para não mencionar a crise económica na Grécia e outros países do Leste Europeu.
A Europa parece, mais do que nunca, ser destruída entre niilistas e otimistas, pessoas que lutam por um mundo melhor e as que perderam a esperança há muito, muito tempo. A Democracia está ameaçada em todo o lado, e os políticos e o público estão – de acordo com Chantal Mouffe – presos nas relações de poder "antagonistas" em vez de procurarem relações "agonísticas", profícuas.
Em "Democracies" (2009), Artur Zmijewski explora a possibilidade de "livre expressão no espaço público" filmando demonstrações, tanto reais como encenadas. Através do filme-vídeo "Ausgeträumt" (2010), Deimantas Narkevičius especula sobre os horizontes de uma nova geração através de um vídeo-clip retratando a banda punk do seu filho adolescente na Lituânia e uma misteriosa viagem de carro através de uma paisagem de neve. Em "Lord’s Ride" (2010), Jean-Charles Hue investiga a comunidade social de uma família Romana no norte de França, deturpando completamente
todas as nossas expectativas de como a vida deveria ser. Apostolis Polymeris vasculha as memórias do seu avô sobre a sua migração da Grécia para a Bélgica e Kyriaki Costa joga com ambas as visões distópica e utópica sobre a Europa do futuro.